quarta-feira, 25 de março de 2015

CRONOS (Kronos, Κρόνος)

Titã do Tempo


Seu nome pode ter derivado do verbo Kreno, “reinar sobre”, “governar”. Significa “tempo”, é a personificação da temporalidade, o senhor do tempo, da passagem dos anos e o tempo que consome e destrói .
Primogênito entre os titãs e, segundo Pseudo-Apolodoro, é o mais novo e fraco, mas o mais inteligente dentre os titãs. Hesíodo ainda o descreve como aquele de pensamentos traiçoeiros. 
Cronos tem como irmãos os doze titãs: Oceano, Céos, Crio, Hiperio, Jápeto, Téia, Reia, Têmis, Mnemosine, Febe e Tétis; e se casa com sua irmã Réia(Fluxo, duração). Seu reinado representa a segunda fase cósmica da cosmologia grega e foi conhecida como a "Idade de Ouro".

Em um Universo ainda em criação esta o Céu(Urano) como poder fecundante e a Terra (Gaia ) como berço fértil. O céu, ávido de amor e de desejo, cobre a terra todos os dias, de sua união com Gaia nasceram os Titãs, os Ciclopes e os Hecatônquiros.
Urano, que podia ver o futuro, temia o poder dos filhos e não suportando a ideia, os devolve para as entranhas da Terra(Tártaro). 
Gaia, já não aguentando mais de dor de segurar seus filhos no ventre, faz um apelo aos titãs para se vingar da cobiça de Urano: 

“Filhos meus e do pai estólido, se quiserdes 
ter-me fé, puniremos o maligno ultraje de vosso 
pai, pois ele tramou antes obras indignas.(...)” (Hesíodo; TEOGONIA. pag.93)

Nenhum dos filhos se manifestou temendo o pai mas Cronos, o mais novo, respondeu a súplica da mãe:

“Mãe, isto eu prometo e cumprirei 
a obra, porque nefando não me importa o nosso 
pai, pois ele tramou antes obras indignas.(...)”
(Hesíodo; TEOGONIA. pag.93)


Gaia então retirou de seu seio o ferro e criou uma foice dentada e entregou ao filho mais novo que ficou de tocaia oculto pela mãe. Quando a noite caiu o Céu veio cheio de amor para se deitar sobre a Terra e não percebeu Cronos que, com a longa foice na mão direita, escondido atacou e ceifou o pênis de Urano. Na versão de Apolodoro, Cronos teve a ajuda de quase todos seus irmãos(menos Oceanos).

Cronos interfere na fecundação da Terra desta forma não mais os seres nasceriam diretamente dela. Urano castrado pela astúcia de Cronos batiza os filhos de “titãs”, aqueles que nasciam da terra, e os alerta que o castigo ainda esta por vir. 
Com a queda de Urano, Cronos sobe ao trono e toma por esposa Réia. Durante o tempo em que reinou o homem era recém-criado e aproveitou ao máximo o governo do vigilante e astuto Cronos que tudo observava. O período em que governou é conhecido com a Era de Ouro.

Hesíodo descreve a “Idade do Ouro” como uma época em que os homens viviam em paz; sem fadiga, ganância, violência e sem a necessidade de leis. Os humanos viviam despreocupados, não envelheciam e sempre festejavam; a morte vinha num sono tranquilo; a terra trazia comida em abundância e todos os bens pertenciam a eles e a primavera era sempre eterna.

Cronos também enviou ao Tártaro a filha de Gaia, Campe(Kampe), para resguardar os Hecatônquiros. Campe é uma criatura com metade do corpo superior na forma de uma mulher e a inferior de uma longa serpente(ou a cauda de um monstro marinho); o cabelo são víboras repletas de veneno; em sua cintura estão as faces de cinquenta temíveis animais como leões, lobos e javalis; possui ainda um par de asas negras e no topo da sua cabeça entre as víboras está a cauda de um escorpião peçonhento. Carrega uma foice e é extremamente feroz com olhos repletos de chamas e fiel a Cronos.

O reinado de Cronos foi bom e próspero, mas quando Gaia o alertou de que um de seus filhos tomaria seu lugar, enfureceu-se. Com Réia teve seis filhos: Hera, Deméter, Héstia, Hades, Poseidon e por último Zeus, e cada um que nascia devorava os mantendo em sua barriga. Decidida a não deixar que acontecesse o mesmo com seu sexto filho, Réia auxiliada por Urano e Gaia escondeu Zeus do pai e entregou ao marido uma pedra se passando pelo recém-nascido.

Assim que Zeus cresceu foi auxiliado por Métis(prudência) a destronar o pai. Zeus confronta Cronos que vomita todos seus filhos até então devorados cuspindo por último a pedra dada por Réia no lugar de Zeus. Tem início então a Titanomaquia, a exaustiva guerra entre Titãs e Olimpianos que durou dez anos.

A guerra só chegou ao fim quando Zeus, aconselhado por Gaia, libertou do tártaro os hecatônquiros(Centíamanos) e ciclopes aprisionados por Urano. A força dos gigantes sobrepujou os titãs que, com uma chuva de pedras, perderam a batalha. Cronos e alguns dos titãs – como Iapéto - que se rebelaram na titanomaquia foram aprisionados no tártaro.
Segundo o dramaturgo Ésquilo, antes de ser aprisionado, Cronos amaldiçoou Zeus a sofrer o mesmo destino de ser derrubado por um filho.

Hesíodo descreve a prisão dos titãs no Tártaro como úmida, escura e enevoada em algum lugar nos confins no limite da terra e do mar. Estão encarcerados por um portão de bronze que Poseidon construiu e com paredes grossas a sua volta e o teto protegido pela terra e pelo mar, tem os Centíamanos como carcereiros. O Tártaro é tão profundo na terra que Hesíodo descreve a distancia do céu ao Tártaro usando uma bigorna de bronze que cai dez dias até chegar a terra e mais dez até o Tártaro:

“(...)Nove noites e dias uma bigorna de bronze 
cai do céu e só no décimo atinge a terra 
e, caindo da terra, o Tártaro nevoento. 
E nove noites e dias uma bigorna de bronze 
cai da terra e só no décimo atinge o Tártaro.(...)”
(Hesíodo; TEOGONIA. pag.110)


Basta lembrar quem nem todos os titãs foram aprisionados no Tártaro, alguns nem sequer participaram da guerra, como o caso de Réia. Outros ainda foram condenados de outra forma como é o caso de Atlas que foi condenado a sustentar para sempre o peso do céu nos ombros.

Alguns autores, como no caso de Hesíodo, Píndaro e Platão, Zeus ainda liberta Cronos de sua prisão após muitas gerações e o manda para os Campos Elíseos como Rei; Já Homero atribui o título de governante dos Campos Elíseos a Radamanto, o juiz dos mortos, enquanto Cronos permanece enclausurado em sua prisão no tártaro.
Posteriormente, após a visão de Hesíodo e de Homero, surge Chronus(Chronos, Khronos) que, de acordo com o Orfismo, tradição de mistérios do mundo grego, é um protogenoi(entidade primordial) presente na criação do Universo. A divindade surge por si só rodeando o universo em companhia de sua companheira Ananke( inevitabilidade). Juntos circulam em espiral em torno do ovo primordial de onde nasce o universo( terra, céu e mar). Chronos é descrito como uma entidade incorpórea e serpentino possuindo três cabeças(homem, touro e leão), devorava os próprios filhos em um ato de canibalismo que representa o fato de nada escapar do tempo sendo vencidos(devorados) por ele. 
A associação de Cronos com Chronos se da á partir da Renascença onde ambos são descritos como mesma entidade. Cronos recebe o título de “pai do tempo” e, assim como Chronos, devora seus próprios filhos mas, diferente do protogenoi, é um ato de autopreservação. 

O culto a Cronos começa na Grecia e chega até os romanos. Em Atenas se festejava a festival de Kronia dedicado a Cronos. No calendário ático da Grécia antiga, o festival ocorria no décimo segundo dia do primeiro mês do calendário que corresponde aos meses de Julho e Agosto. A Kronia é um festival que significava o final do ano e o começo de uma nova era cheia de expectativas. Segundo fontes, este festival era bastante importante relembrando a "Era de Ouro" de Cronos e as festividades eram famosas por características marcantes como a libertação temporária de escravos (N.S. Gill; "Kronia" em ancienthistory.about.com).


Para os romanos Cronos recebe o nome de Saturno associado à agricultura. Durante a “Era de Ouro”, ensinou aos homens as funções agrícolas, em homenagem a Cronos se celebrava a Saturnália. Ocorria todo dezembro, no solstício de inverno e começava como um grande banquete seguido de oferendas, sacrifícios e doações. Assim como a Kronia, significava uma nova era cheia de expectativas em honra a “Era de Ouro” onde nada faltava ao homem.
A descrição de Cronos é de um homem mais velho com corpo forte com barba branca e cabelo grisalho. Muitas vezes Cronos é retratado segurando uma foice, seu símbolo, ou ainda é retratado devorando seus filhos ou os recebendo de sua esposa.


  • COMPLEMENTOS

FOTO:

* Pintura de Peter Paul Rubens. Cronos devorando um de seus filhos.

REFERÊNCIAS:

Consulta Online 


  • www.theoi.com/ (Dezembro 2013) 
  • www.pantheon.org/ (Dezembro 2013) 
  • www.mythweb.com/(Dezembro 2013) 
  • ancienthistory.about.com/ (Dezembro 2013) 

Livros, periódicos e textos 
  • BULFINCH, Thomas - O Livro de Ouro da Mitologia, Histórias de Deuses e Heróis. 
  • HESÍODO: Tradução TORRANO, Jaa - Teogonia, A Origem dos Deuses. 
  • HOMERO: Tradução MENDES, Manoel Odorico - Ilíada 
  • BRANDÃO, Junito de Souza - Mitologia Grega. 
  • HESÍODO: Tradução LAFER, Mary de Camargo Neves - Os Trabalhos e os Dias.

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